quarta-feira, 28 de maio de 2014

as variações do prazer
variam entre
o gozo
e
o bobo

Que coisa

não tem coisa mais chata
que coisa nenhuma
querer qualquer coisa
achando que é
coisa alguma


A coisa

a coisa toda perdeu o sentido:

fez nó
fez fita
fez arte
fez só

a coisa toda meteu os pés pelas mãos

- matou a coisa pouca

agora
é
coisa
alguma

Nudez

dos amores invertidos
prefiro os que surgem
nus

nus de mentiras
nus de vaidades
nus de orgulhos
nus de traição

e se couber tirar
mais alguma coisa

pediria que esse amor
viesse até sem roupa




segunda-feira, 26 de maio de 2014

Gostos

gosto da poesia
do verso
da rima
da gíria

gosto da bobagem
do pacato
do silêncio
da malandragem

gosto do tambor
do batuque
do ruído
da guitarra
da bateria

gosto do laço
do aperto
do nó
do trançar
dos cadarços

gosto da água fria
do gelo
da neve
da língua dormente
da sacanagem

gosto da capela
da voz no ouvido
do ar reprimido
do gemido
do reger de dentes
da boca aberta

gosto do comício
do discurso vivo
do sangue pulsando
do grito de ideais
das mãos levantadas
em praça aberta

gosto da cachaça
da água ardente
da alma quente
do fogo em brasa
do chimarrão
do quentão
do pinhão

gosto do queixo
dos olhos
da nuca
das mãos
da bunda

gosto de inventar
que gosto

fingir a preferência
colocar ponto
em poesia que
tem reticências


terça-feira, 20 de maio de 2014



A vida se faz de escolhas.
Mas tem escolhas que nos escolhem. 
Tem decisões que nos acolhem e indecisões que nos recolhem.

É um repetir de sim ou não.
E se não tem resposta, a dúvida se torna escolha, mesmo sem ter sido opção.

Todo dia uma alternativa.

Toda alternativa um dia.
Toda uma vida como resultado das alternativas escolhidas.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

As pessoas perguntam se te esqueci.
E eu?

Nem me lembro.

Ferida

Tem cicatrizes que valem os cortes.

- outras não.
Enquanto você me esquece:

Eu
Te
Lembro
Não. Eu não estou dando em cima de ti.
Estou dando em cima de mim.

Você é apenas o intermediário.
É preciso mexer no silêncio quando ele está calado há muito tempo.

Nem tudo que está calado está vivo.

AMIGO

a mão no ombro
tão esperada

nem macia, nem pesada

vem do braço de um amigo
que nos cura lentamente
sem dizer um ruído