quinta-feira, 27 de março de 2014

Acordei Liberta

quis tanto provar o gosto da liberdade
abrir os braços sem algemas
não ter horários pro meu sono
ver a vaidade subir em meu rosto

quis tanto tocar no mar sem perguntar tua opinião
beijar a boca de outro por opção
fazer prece com as mãos sem ter o que pedir

quis tanto o gosto da tua ausência
a leveza de não ser controlada
não ser mais julgada

então hoje acordei assim:

livre


quinta-feira, 20 de março de 2014

Gente

Tem gente
que vale
a pena

E a pena
deixa a
vida leve
o coração
alegre
e o amanhã
ser hoje


quinta-feira, 13 de março de 2014

Sinopse de um Telespectador

Um copo de suco de maracujá, dois travesseiros, uma manta esverdeada, um blusa de pijama de oncinha, uma calcinha zebrada, um cigarro fazendo fumaça, o sofá, eu e o papel em branco.
São uma e pouco da madrugada. Terminei de assistir o filme baseado na obra "A menina que roubava livros".
Ainda não mexi meus lábios. Não há ninguém além de mim nessa sala, nessa casa, nesses meus pensamentos.
A história era triste. Daquelas histórias que mexem com a solidão da gente, com as lembranças da família longe, com os traumas, com a história individual e secreta de cada um.
Quem era eu?
A menina solitária que construiu um lar com estranhos, uma bagagem de histórias lidas em livros roubados, um amigo de infância daqueles que todo mundo quer ter pra sempre, um amigo de guerra, uma senhora bondosa e rica que lhe adota em meio aos escombros e dor, quando tudo parece estar perdido?
Ou... será que eu era o amigo judeu de guerra, vendedor de sonhos, ideologias, tecedor de um futuro de paz?
Posso ser a mãe amargurada pelas perdas, necessidades básicas e sacrifícios para manter o alimento dos seus a cada amanhecer duvidoso...
Também posso ser a senhora rica e bondosa, dona de uma vasta biblioteca morta, que guarda para manter a memória do filho que partiu e agora em meio a livros envelhecidos encontra na menina órfã uma razão para voltar a viver...
Não vou citar o pai, sei que não sou ele.
Ele era o melhor personagem. O mais sábio, mais amoroso, mais sonhador.
Ele fez a história triste ser poesia em notas de acordeon.

Ver um filme é isso. Terminar o vídeo ainda dentro da história. Se o filme não causa isso, melhor nem ter olhado.
É se colocar como peça viva, lá, num lugar da trama que ninguém te vê, mas que mesmo invisível você consegue sentir o fardo de cada personagem.

Leio livros, vejo filmes e escrevo por isso.
Estar em um lugar que nem eu sei qual é, mas sei que estou ali.
Por algumas horas a gente é vilão, mocinha, filha, mãe, amigo, fogo, tiro, página de livro, frio, primavera, porão, sopa, roupa limpa, guerra, paz, covardia, coragem.
Por alguns espaços de tempo não somos a gente e esquecemos quem somos. Como recém nascido que vem ao mundo sem nem ao menos saber que chegou.
São instantes sem nossas dores, nossos desamores, nossas frustrações, nossas confusões.
Durante o filme ou o livro, sou chão do palco, adorno de cenário, nuvem carregada de chuva, míssil prestes a explodir, dor de menina, saudade de mãe, abandono de guerra.
E quando volto da história que não é minha, imposta pela tela que escureceu e as letras que subiram com o nome do autor, ainda imersa no que não sou eu, não sei mais quem eu sou.
Não sei porque chorei a pouco pelo amor perdido, não sei porque não estou dormindo, não sei porque preciso escrever isso.
Quanto volto de um livro, o lugar que estou não parece mais o mesmo lugar. Eu não pareço ser quem eu era.
Todas as imagens misturadas dançam balé na minha cabeça e a fantasia de estar em um mundo novo e desconhecido chama para brincar de escritora.

A noite corre da porta pra fora e o relógio em silêncio mostra que o tempo está passando.
Quem eu sou agora?
Quem acordará em mim amanhã?

De repente viro filme, viro livro e o final do que sou eu, nenhum autor escreveu, ninguém leu.







No mês do meu aniversário,
o verso é quem anda sábio.


A beleza está no olhar.

Não nos olhos da face ou nos olhos do mundo...

A beleza está no olhar sutil, que mira a vida com paciência, bondade e uma pitada de sedução.


quarta-feira, 5 de março de 2014

Se todos nós olhássemos para trás por alguns instantes, perceberíamos o quanto foram importantes os primeiros passos, os primeiros erros, as primeiras inexperiências.
Os anos passam e congelamos nossa história em um presente, que em breve será temporário e esquecido. Esquecemos a importância dos inícios e das confusões dos inícios.

Talvez um dos mistérios da vida seja isso... termos a gratidão de reconhecermos a nós mesmos como seres mutáveis e o universo como um campo de possibilidades.


segunda-feira, 3 de março de 2014

Sobre as coisas do coração

Estava ouvindo a música do Paulinho da Viola "Dança da Solidão", que já aprecio há alguns anos, desde que ouvi na linda voz da Marisa Monte, quando pausei meus pensamentos e músculos nos primeiros versos da música.

"Solidão é lava, que cobre tudo. Amargura em minha boca. Sorri seus dentes de chumbo."

Bom. Fiz a mesma pausa agora antes de voltar a escrever. Porque realmente são três frases que causam uma reflexão, que se não durar horas, durará bons minutos.

Sou uma pessoa solitária, na maioria das vezes. Isso não é uma lástima, pelo contrário. É um estilo de vida, que devido minhas características pessoais, tornou-se minha melhor opção de convívio com outros.
Descobri muito cedo, que estar acompanhada da minha solidão seria a primeira prova de fogo que teria que enfrentar para ser mais humana e amorosa com as outras pessoas. E ainda estou nessa prova de fogo após algumas tentativas de vencer ela.
Quando optei pela solidão, é claro, que não foi algo premeditado... "agora ficarei só". Nada disso. Apenas tomei a decisão de morar fora de casa em uma cidade distante e o resto fluiu como derrubar a primeira pecinha do Dominó.
Tentei morar com uma família que não fosse a minha. Aguentei dois meses. Morei em uma pensão com mais 3 mulheres dividindo um quarto. Aguentei quatro meses. Morei com a única menina da pensão que parecia que daria certo. Aguentei um ano. Morei com mais uma amiga que surgiu. Ela aguentou dois meses e sumiu. Morei com um namorado. Aguentei três meses. E por fim, morei com meu irmão. Por uma questão sanguínea, familiar e de sobrevivência. Aguentamos cinco anos.
Posso dizer então, que de todas as tentativas citadas, morei na maioria das vezes sozinha, com pequenos intervalos de tentativa de convivência dos outros comigo. Sim, dos outros, pois eu sei que a tentativa de morar comigo era deles e não vice e versa.
E por mais que doesse admitir, a cada tentativa eu conseguia vislumbrar o fim da tentativa.
Fosse um copo sujo deixado no chão embaixo da cama. Fosse uma escova de cabelo pessoal jogada na mesa da sala. Fosse o toco da barba, duro e grudado na louça da pia do banheiro. Fosse a música alta em pleno domingo de manhã. Fosse a invasão de uma visita inesperada de amigos do outro (a) enquanto eu estava de pijama vendo televisão.
Nesse ponto dos escritos, acredito que já devo ter criado no leitor uma ideia ou apenas um vago conceito do que pensar sobre minha civilidade coletiva ou em dupla.
Concordo que foi tentando conviver em dupla que percebi o quanto o coletivo seria mais complicado.
Mas nada foi tão grave ou a ponto de um exílio. Com exceção da menina que morei um ano,  todos demais tenho contato até os dias de hoje, nem que seja apenas na página do facebook.
Ainda em tempo. Volto as frases do "Paulinho".
Esses escritos não tem um objetivo de definir ou filosofar sobre a solidão. Ela apareceu naturalmente, visto que é o desenrolar do verso da música. O que eu queria mesmo era falar sobre as coisas do coração, como intitulei essa crônica. E não vou mudar só porque a solidão prevaleceu.

E solidão não é isso, uma lava que cobre tudo? Um amargo que começa na boca e cerra nossos dentes, com uma força que não conseguimos movê-los?
Estou em um momento que sou amante da minha solidão. As vezes nos amamos loucamente e dançamos como um par perfeito e outras vezes nos desprezamos e falamos uma pra outra que nunca mais vamos nos ver.
É que mesmo que acompanhados, ainda somos só, pessoas singulares, com pensamentos inatingíveis.

Sempre busquei muito por companhia sem perceber e quando encontrava companhia, dentro de mim gritava a vontade de ficar só. "Por favor meu espaço, meu canto, meu silêncio, meu vazio perfeito! Devolve, por favor!"

Não existe uma verdade absoluta e aplicada a todos sobre o que causa a solidão.
Conheço pessoas que não suportam pensar em almoçar sozinhas, seja em casa, no shopping ou qualquer situação. O silêncio de comer acompanhado unicamente de si mesmo é algo insuportável. Conheço também aqueles que jamais conseguiriam chegar em casa após um dia de trabalho ou faculdade e se ver no meio de paredes, móveis e seus próprios ruídos de pés e mãos.
Conheço aqueles que planejam o dia todo o que fazer para não ter que ficar só. E fazem isso sem querer. Então pagam bebidas e comidas para amigos, colecionam amores de cinema, shoppings e estacionamentos  e vez que outra patrocinam programas familiares. Também conheço aqueles (as) que fazem filhos e casam várias vezes, mas esses nem sei muito o que pensar. Acho que mais tem a ver com entender sua "utilidade" no mundo e o que é o "amor" do que qualquer outra coisa a ver com solidão.

Mas não é pra esses que escrevo. Escrevo para aqueles como eu. Pessoas que embora as vezes fiquem melancólicas, bucólicas e chorosas. Nos demais % dos seus dias, apreciam a paz de abrir a porta de casa e ter um silêncio deixado por você mesmo lhe esperando. Pessoas que amam seus amigos, familiares, namorados (as), filhos (as), mas que amam muito também a calma de não ter o que falar, o que fazer ou que contas precisa prestar.

Talvez eu experimente conviver diariamente com alguém, em algum tempo que ainda não chegou. Mas se tem algo que todos deveriam experimentar, antes da velhice impor ou de um casamento, é conviver com sua solidão e ficar amiga dela.
A música que citei, é poesia pura. Não mente nada da essência da solidão. Mas a gente só sente o gosto do doce se provar alguns amargos, alguns azedos, alguns ácidos. E a solidão é uma excelente degustação que a vida nos ofereceu ao nos criar seres únicos e sós por natureza.






O maior presente da vida são nossas amizades.
Pessoas que se emprestam e se doam ao lado
umas das outras por puro amor.

Quanto mais eu leio sobre tudo:

- mais padrões se desmoronam nos meus olhos
- mais sorrisos surgem em meus lábios
- mais opções percebo nas minhas escolhas
- mais pessoas passo a considerar interessantes para estar ao meu lado
- mais mutáveis tornam-se meus planos antes concretos
- mais percebedora do que é ter uma vida com sentido fico
- mais companhias de sol e menos amores de chuva aprecio