Duas Faces

no amor sofria

sem êxito sucumbia
garimpando suas ruínas

quando as lágrimas
anunciavam a emoção

prontamente sorria!

era forte demais
a doce menina
para transparecer
alguma dor
que porventura
sentia

Nessa vida

enquanto
os pulmões
tiverem ar

o
coração
pulsar

tudo
pode
acontecer

toda
hora
pode
ser

Fragância Incompleta

explique pra mim:

porque não há
fragância minha
em ti

porque exalo
esse perfume

porque o tenho
se não posso
com você dividir

Eco

o vai e vem
fez eco

dentro de mim
um som vazio

Vício Recreativo

entrava
saia

suava
sentia

ao pé do ouvido
delícias
delírios

prazer-recreativo
vício
gemido

ou apenas isso:

corpos estendidos
saciados por movimentos
repetidos

Novo Olhar

não posso oferecer
se não jaz em mim

gravuras antigas
não encatam meu bem

os novos olhos
querem novidades

na mesmice cotidiana
ilusões desfazem-se
com a fumaça dos cigarros

e são muitos cigarros

o vazio perde espaço
o novo olhar
contempla um futuro quadro

um novo alguém
um novo espaço
un novo começo

no canto da velha sala
tela vazia
pincéis e tintas a espera

seus olhos a encaram
tornam-se imaginação

na sua mente
sou a tela

seus dedos são a cor

meu corpo
pano branco

desejoso
por suas mãos

O pesadelo do sonho

como não pensar em você
na sua decepção
na sua dor
no amargo da língua
no salgado dos seus olhos
nos questionamentos
que inundam sua mente
sua existência
sua persistência

agora faz silêncio
as palavras parecem ter
evaporado de sua boca
as letras não querem fazer
orações com seus dedos
o corpo não quer mover-se

em meio a essa inércia
pisque os olhos
belisque o braço
abra os dedos dos pés
pulse o coração

veja além dessa cegueira
reconstrua sua força
transcenda através de mim

sou seu porto-seguro
pedaço vivo de ti
separado por esse sábio fim

ser sua cicatrização

Desilusão

o
telefone
vibrou

disparou
o coração

na tela
decepção

a operadora
anunciando
promoção

Imersão

naquela tarde
mirando o sol

a água do mar
cobriu meus poros

uma canção
invadiu
o peito

na boca
o amargo
de um verão

em águas doces
ressurgi

tirei o sal do
corpo e

das pálpebras

Tatuagem

na minha pele tatuei
o invisível

a tinta
aparecerá
apenas
uma
vez

reluzindo um desenho nunca visto
na única pele compatível

Quebra-cabeça

chegue
de
mansinho

com o
carinho
necessário

encaixe
meus
pedaços

preencha
os
espaços

O Homem que eu Amar

chegará lentamente
homem-serpente
picará meu coração

chegará repentinamente
homem-felino
hipnotizará meus sentidos

será calmo, passivo
agitado, nocivo

contará histórias
esculpindo com as palavras
a essência da nossa união

será quieto, calado
montará  meus pedaços
com o silêncio afável
de um mar sem confusão

será
tempestade
furacão
terremoto
turbilhão

paisagem
lua cheia
amanhecer
respiração

rasgará minha pele
decifrará meu corpo

beijará meu verso
amará o inverso

tocará com a língua
o céu da minha boca

fará mil pedidos
pras estrelas cadentes
que despencam
da minha mente

entrará de vez na minha vida
sem querer saída

fará promessas bobas
sorrindo do impossível
homem-paraíso

veneno sem cura
dose certa de loucura

chão do meu abismo
homem-imaginação

Seguir em frente

não posso
apagar-te
do meu
passado

mas posso rejeitar
todos os seus contatos

Perda de Tempo

ironia seria dizer
que não sabia
ou que não ouvia
o que o universo
me dizia

estar contigo só podia ser fria
iceberg de confusão
invenção de sentimentos

uma bela perda de tempo

Amuleto

perdão das palavras
porém ouso dizer
que estás mal orientado

ages sem razão
sofres por intuição
decide a negação

o que tens não tenho noção
conheces bem seu coração

só que vejo em teus olhos
o amargo da solidão

e quero contigo
compartilhar uma lição

faça do riso seu amuleto
desbrave o desconhecido
encontre seu eixo

reinvente novos começos

Fragmentos

precisamos de mais verdades
todas elas
de todos os tipos

a cada dia nesse mundo insosso
corremos grande risco
de nos tornarmos ocos

matéria feita do pó
cultura reproduzida em latas

pessoas fragmentadas
resultados de más ações
escolhas erradas
mutiladas por falsas palavras
demolidas como se fossem nada
entulho de almas despedaçadas

passamos pela calçada
vergonha escancarada
humanos rejeitados
sonhos nunca sonhados

está na hora da franqueza dos sentimentos
sentir o valor do amor por dentro
distribuir o que aprendemos no berço

Destravei

não precisei de porre
disfarces
sutilezas

dessa vez disse eu te amo
quando me veio a cabeça

Segurança

e se mesmo assim
a saudade não passar
continuando a atormentar

vou lhe abraçar forte
até você
captar

que meus braços sempre estarão
pra você

no mesmo lugar

Trégua

escondo um segredo
que temo revelar

mar azul
flor no cabelo
pés descalços
areia até os tornozelos

olhos no alvo
boca nervosa
coração palpitante

fazer a caminhada
dar trégua pro meu mundo

dizer que aceito
dividir tudo

fazer parte
do seu mundo

Faz de conta

poderia brincar
de faz de conta

escapulir dos
sentimentos
dar fugidinhas
com os pensamentos

seguir de
nariz em pé

esnobar a realidade
fingir devaneios
fazer bobagens
não restringir
os detalhes

poderia todavia
soltar o verbo
falar do belo
cantar a realidade
contar verdades
ser a própria chama

prender-te na cama
aprender a transformar
teu corpo em dança
imaginar desejos
provocar arrepios

porém
não farei nada disso
seria tão previsível

decido apenas
contemplar-te

pedaço de paraíso

Ocupada

não
posso
sofrer
como
almejas

o amor
me ocupa
demais

ser feliz se tornou inevitável

Metamorfose

na
fumaça
das
minhas
idéias

faço
nuvens

viro
libélula

Artesanato

a
sua
covardia

tranformou
meu
ser
em
pó

com
olhos
chuvosos
barro
tornei-me

hoje
sou
vaso

não
ouse
derreter-me

Conto de Fadas

vou
te
abduzir
pro
meu
mundinho

grudar
no
osso
do
teu
dorso

brincar
de
chapeuzinho
com
seu
lobinho

Fuga

não
adianta
fugir

a
maior
perseguição
é
a
interna

Despedida

suma
da
minha
frente

ou
te
desintegro
com
o
poder
da
minha
mente

VÁ MENINO (2)

me surpreendo

as noites
(não) são castigos

dias indo e vindo
busco pela direção

conheço bem o caminho
da vã solidão

insisto
persisto
resisto

desisto!

mas
seguirei

mesmo
sem te ver

então

vá logo menino
encontre um abrigo

solte minha mão
ache seu trilho

saia do meu caminho

Retrato

minhas atitudes
desdenham-me mais
que meu errôneo
caráter

elas
desvendam-me

sou:

pele
osso
arte

Livre Arbitrio

não sei reter
prender

a naturalidade
do fazer
o que quiser

estar onde
se quer

facina-me

inebria

detém
meu
ser

Justificativazinha

que
vidinha

chorou a
coitadinha
tomando
seretonina

pra
justificar
ser
mulherzinha