sábado, 24 de novembro de 2012

Mudanças

talvez eu não tenha os versos certos
que componham o ritmo desse coração

tenho a noite, a chuva fina
o vento levemente frio que gela meus pés
nessa primeira noite da minha nova solidão

estar sozinha é hábito antigo
os inícios dolorosamente são sós
os fins também, por mais otimistas que possam ser
ainda são sós

a solidão sempre assusta
lembra melancolia, medo
e lembra que é a própria solidão

a menina dura se vê muda
o único parceiro de prosa
é o soluço que quebra o silêncio noturno
ou as torneiras que pingam e os móveis que estalam

a casa ficou revirada, os móveis estão trocando de lugar
não mais aqui voltarão, não, não
um ciclo encerra com o lacrar das caixas
o burburinho dos nós dos sacos plásticos
a porta que será fechada em breve
guardará o vazio de fragmentos de tempos
vivos agora só em memórias, em marcas nas paredes
no sopro da brisa que transita entre os cômodos
e entre as frestas abertas pelos cupins

não sei o que tem do outro lado da porta
descendo as escadas, seguindo a avenida
depois do trem, do portão grandão, da nova porta lacrada

eu apenas irei, mas o medo agora mora em mim
sou muro úmido, cinza, invisível, solúvel
me chamo "não sei"







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